O preço da reestruturação: quando o capital cala os sonhos

Milhares de demissões na Microsoft revelam a face fria da indústria que prefere descartar talentos a enfrentar seus próprios erros.
Hoje, dia 2 de julho de 2025, ficará marcado como um dia sombrio, daqueles que permanecem na garganta como um nó de indignação. Uma massiva onda de demissões na Microsoft varreu mais de 9 mil postos de trabalho, atingindo diversos setores, inclusive o mais sensível e vital da indústria: o desenvolvimento criativo.
Antes de mais nada, entendo que motivações financeiras, reestruturações internas e a busca incessante por eficiência operacional fazem parte do jogo corporativo. "Fazer mais com menos" se tornou mantra de qualquer grande companhia. Mas o que aconteceu hoje transcende métricas, planilhas e lucros. E por isso, deixo aqui meu comentário pessoal — carregado de dor, repulsa e uma tristeza que me consome.
Negócios não são obrigados a manter pessoas. Isso é óbvio. Vivemos em um sistema onde mão de obra é mercadoria, e quando não convém, é descartada. Mas eu não sou executivo. Não sou acionista. Sou humano. E por isso, vejo pessoas.
Pessoas que acreditaram. Pessoas que construíram uma rotina de trabalho com esperança. Pessoas que criaram laços com colegas, sonharam juntos com projetos que talvez jamais vejam a luz do dia. Gente que não apenas vestiu a camisa, mas costurou ela com o próprio esforço.
Agora imagine... receber um e-mail de dispensa no meio do expediente. A frieza de uma mensagem digital rompendo um vínculo construído com suor, dedicação e fé. Agora multiplique isso por 9 mil. Consegue sentir o peso? Eu não consigo... mas me revolta. Me destrói por dentro.
Porque eu me importo. Talvez até demais. E por isso não tenha sucesso algum em empreitadas que exigem frieza e cálculo. Eu simplesmente não consigo enxergar as pessoas como estatísticas. Elas têm nomes, histórias, contas pra pagar e sonhos que agora podem ter sido esmagados.
Pode ser que alguém ache que estou sendo dramático. Talvez eu esteja. Mas me diga, o que há de racional em se calar diante do desrespeito à dignidade humana?
Algo está errado na Microsoft. Uma empresa não demite 9 mil pessoas à toa. Isso é sintoma de má gestão, de decisões erradas e de líderes que preferem cortar a carne dos outros do que admitir os próprios erros.
Phil Spencer, Sarah Bond, Matt Booty, Satya Nadella... todos vocês têm nome, rosto e cargo. Todos vocês têm culpa. Não adianta encher a comunidade de sorrisos em eventos, prometer mundos e fundos enquanto o mundo real pega fogo nos bastidores. Não adianta anunciar o futuro se você não consegue cuidar do presente.
E ainda por cima, vêm os rumores de cancelamentos de jogos, de projetos inteiros jogados fora como se fossem lixo. Isso é gestão incompetente, falta de visão estratégica e desperdício de talentos. E claro, como sempre, vão se esconder atrás do velho eufemismo: "reestruturação interna".
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A verdade é dura: é mais fácil demitir do que assumir a culpa. É mais fácil empurrar pra debaixo do tapete do que enfrentar os próprios fracassos.
Sabe qual é minha vontade? Escrever em caixa alta um sonoro F*DA-SE. Sim, com todas as letras. E me perdoem, mas é a única forma de tentar aliviar a raiva que me consome neste momento.
E como se não bastasse, ainda temos que aturar a indiferença de parte da comunidade. Gente que diz "faz parte", "normal", como se estivesse comentando a troca de um pneu. Cadê a empatia? Cadê a humanidade? Não dá pra aceitar essa banalização da tragédia.
Tem gente mais preocupada em contar os jogos do Game Pass ou defender o console da vez, como se isso fosse mais importante do que a vida das pessoas. Outros ainda têm a ousadia de exaltar supostas vantagens do Xbox sobre o PlayStation, mas comemoram quando a concorrência é quem demite. Uma hipocrisia nojenta, embalada em fanatismo cego.
Chega. Basta.
E se você está lendo isso, por favor: não seja mais um idólatra de figuras corporativas. Nem Phil Spencer, nem Sarah Bond, nem qualquer outro CEO são merecedores de adoração. Eles não ligam pra você. Não ligam pra mim. Eles se importam com o mercado. Com lucros. Com metas. O resto é conversa.
Não ame marca. Não ame executivo. Ame seu bom senso. Ame sua integridade.
Não normalizem o inaceitável. Não se tornem cúmplices de um sistema que cospe talentos e destrói sonhos como se fosse rotina.
E com isso, me despeço por hoje. Deixo abaixo o memorando na íntegra enviado por Phil Spencer, que talvez represente tudo o que está errado — um texto bonito para esconder um ato cruel.
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