
Dragon Age: The Veilguard - O elefante branco na sala - ANÁLISE
Envolto em polêmicas, Dragon Age : The Veilguard no fim das contas entrega boa aventura, marcada por desenvolvimento conturbado e presença de pautas progressistas.
Dragon Age: The Veilguard pode ser qualquer coisa, menos feio. Foto tirada por mim, no Playstation 5. O modo era o de Desempenho.
Vivemos uma época de controvérsias no meio do entretenimento: A agenda WOKE. Sim, meus amigos, ela chegou e vem sendo o fantasma por trás dos produtos e da mídia que consumimos. Após seu lançamento no mês de outubro do ano passado, comecei a pesquisar os motivos de uma franquia tão amada estar em pauta por motivos que não são sua qualidade ou até mesmo seus problemas, mas sim a fúria de seus "fãs" indignados com o que viram por aí. E quando falo viram por aí, é porque só viram mesmo. A maioria desses críticos ferrenhos são pessoas movidas por outros interesses, pessoas essas que basicamente fazem de tudo, mas não consomem videogames. E sobre o fã assíduo da franquia que não gostou da experiência, eu te respeito e muito. Veilguard tem quase 10 anos de distância de seu último jogo e, no que tange a ser um RPG, ele é simplesmente 10% disso apenas. Para falar sobre o jogo, joguei Inquisition do zero, com todas as DLCs, e parti para esse jogo com a mente aberta. Feliz por ter feito isso porque agora posso formular minha crítica pensando no que de fato importa: O JOGO em seu estado puro, seja com seus problemas ou qualidades, se comparado à edição passada. Vamos ao que interessa.
Capa do jogo. Basicamente seu personagem e a galera que vai te ajudar a alcançar seu objetivo .
Sequência direta de Dragon Age: Inquisition, se passando 10 anos depois. Seu nome é Rook. Você faz parte de uma equipe de pessoas contratadas para encontrar uma divindade élfica que anda em meio às pessoas comuns. Sua origem depende basicamente do que o jogador escolher inicialmente: O meu Rook é membro da conhecida Guarda Cinzenta, que luta contra a podridão, mas você pode escolher outras duas. O tempo é curto, o risco é alto e o preço a se pagar, se você falhar, é ainda maior. É lógico que ia dar muita merda e, durante o ritual que Solas (Sim, a divindade é seu antigo mago querido que ajudou a Inquisição a combater Corypheus no último jogo) preparava para basicamente arruinar o mundo e fazer um novo à sua imagem, você acaba se intrometendo com seus aliados e consegue neutralizar a ameaça. Ou assim pensávamos. O problema é que, durante o furdúncio, Solas fica preso no Imaterial. E fica melhor ainda, além de conseguir falar com ele quando você medita, no processo você acaba soltando duas divindades élficas narcisistas, cruéis e, ainda por cima, uma delas tem um sotaque britânico que beira o clichê de tão vilanesco e antagônico que acaba ficando. Pronto, sem tempo irmão, você tem que resolver os seus problemas.
Eu não vou mentir, eu adorei o quão o jogo é objetivo quando se trata da história. Em questão de minutos já me vi envolvido em uma série de missões secundárias, comecei a entender a árvore de habilidades e seu sistema de progressão e o sistema de companions. É tudo muito simples, sem muita enrolação. Você faz uma missão de interesse, localiza o seu novo parceiro e bora pra luta. Gosto da maneira como cada um tem um arco separado de história e o final bom do jogo depende unicamente de você SIMPLESMENTE fazer essas missões. Ao mesmo tempo, se você espera uma história com muitas opções, camadas e personagens extremamente densos em narrativa, esqueça. E isso pode ser bom porque, ao mesmo tempo, temos personas fantásticas como Emmerich, Dravin e Lucanis, que esbanjam carisma e, mesmo com um arco mais direto, acabam roubando a cena. E infelizmente, temos outras como Neve Gallus e Harding que poderiam ter mais tempo de tela, romance e histórias muito mais elaboradas. Não quer dizer que não seja legal de acompanhá-las, mas sinto que o arco de ambas é muito pouco aproveitado. E não se preocupem, falarei em um parágrafo o que achei da Taash e a polêmica do não-binário.
Eu sempre sou a favor de quando as empresas colocam a função de deixar o visual que você quiser pro equipamento. Poder combinar uma armadura bacana com os efeitos daquela mais feia sempre é 10/10. E aqui, você pode fazer também com suas armas e itens. O mesmo vale pros seus companheiros. Foto tirada por mim, meu set favorito!
Os gráficos são muito bons. E tem de tudo aqui : construções das cidades , florestas , fortalezas tomadas pela podridão, praias ensolaradas... A variedade de cenários e seus mapas agrada demais a quem joga, seja em beleza ou escopo. Se tem algo que Dragon Age : The Veilguard se sai muito bem são nos gráficos . Minha única CRÍTICA é aos efeitos de umidade que são quase nulos nas armaduras e personagens a não ser por pequenas gotas de chuva . Isso é detalhe , mas quando vemos outros jogos fazerem isso tão bem , um jogo AAA poderia caprichar mais nisso. Mas REITERO QUE é só um detalhe num quesito onde o jogo entrega MUITA QUALIDADE . O modo performance foi melhorado no último patch e entrega boa estabilidade no Playstation 5.
Sonografia vai bem no que tange a efeitos sonoros. O barulho do metal , a lâmina de uma espada cortando a carne , um martelo pesado acertando seu alvo...Tudo muito condinzente e nenhuma crítica nesse aspecto. Na parte de trilhas sonoras senti falta de músicas mais recorrentes e grandes trilhas de chefes e vai aqui a única crítica senão a um BUG que não foi corrigido ainda : A música para de tocar aleatoriamente , fazendo o jogador reiniciar o jogo caso não queira enfrentar batalhas inteiras sem música ao fundo. Como dizem no twitter, SUCUMBA EA . A dublagem do jogo patina um pouco no que tange a certos personagens como Taash e Morrigan sendo esta última um downgrade tremendo do último jogo . Enquanto Taash soa como uma adolescente revoltada e impulsiva , Morrigan parece uma pessoa que não queria estar ali sequer falando com você . Completamente desinteressada como se a vida dela tivesse sido sugada e ela vivesse a base de cafeína e sonhos que não vão se realizar . Claudia Black , a atriz que faz a personagem é a mesma que interpreta a cínica e divertida Chloe Frazier de Uncharted . Pois é né, olha a diferença . As facções do corvos, personagens do jogo anterior , Lucanis, Emmerich , Dravin e os vilões por outro lado fazem um belíssimo trabalho . Pra mim, no aspecto geral a dublagem agrada com toda a certeza .
Agora, vamos a gameplay. Fãs da parte mais clássica da franquia podem não gostar porque sejamos honestos, RPG básico ao extremo. Não há sistema de turnos, não há um combate muito aprofundado na estratégia porque os produtores quiseram fazer um jogo muito mais inspirado em um hack n slash do que os jogos anteriores que são MUITO MAIS cadenciados e focam numa composição mais detalhada de sua equipe . Em contrapartida, todos os sistemas são de fácil entendimento e o verdadeiro tempero são as possibilidades. Você pode resetar sua janela de habilidades a qualquer momento e combinar companheiros com funções ligadas a você é sempre muito divertido. Em um exemplo simples , habilidades de Rook focadas em atordoamento se combinadas com um personagem que usa uma habilidade em sinergia , gera uma explosão e dano crítico. Bonito de se ver, melhor ainda quando você aprende a combinar com combos diferentes. Muitas possibilidades e diversão basicamente infinita. Há danos convencionais de um rpg como dano elétrico, sagramento e chamas mas aqui tudo é muito mais pé no chão. O inimigo sempre vai ter um ponto fraco, outro forte. Vida que segue. Em resumo, se você gosta mais de jogos de ação será um prato cheio. Combatentes de estratégia, esse jogo pode não ser pra vocês!
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E agora, senhoras e senhores, você que leu minha crítica chegou até aqui. Porque diabos um jogo como Veilguard tem recebido críticas tão mistas do público? Para chegar nesta conclusão, deixe-me falar sobre o desenvolvimento do jogo e logo tudo fará sentido. Primeiramente, ele vem sendo discutido desde a última entrada da franquia, lá em meados de 2015. O projeto foi reiniciado 3 vezes: A primeira, o foco seria em singleplayer, sendo que o roteiro e a história já estariam aparentemente prontos. Aí, aparentemente, a EA quis fazer uma nova incursão em live-service. É a EA, pessoal, seria pedir pro Scooby-Doo parar de ser covarde. A EA é o que é e nunca mudará. Aí, numa reviravolta, a BioWare, já machucada pela premissa de Anthem e se apoiando nos sucessos da franquia Jedi da Respawn, que faz parte da mesma turma de CEOs imbecis que têm alergia a videogame, conseguiu convencer os tapados de que esse não era o caminho e cá estamos com o produto inicial esperado: Uma narrativa e sequência direta do último jogo da franquia.
Vitória! Assim pensamos, mas a internet tem seu charme. Muitas das críticas achei oportunistas (tirar as falas de contexto e favorecer narrativas é uma delas), como pegar as falas do personagem não-binário completamente fora de contexto para espalhar abobrinhas e uma aversão a pessoas diferentes que beira o ridículo... Mas é intrigante como o jogo parece tentar se esforçar mais em gerar o debate, o atrito desses mesmos debates com o jogador e seu público do que entregar um jogo mais denso e com uma história mais complexa e cheia de camadas, como as últimas entradas da franquia. A verdade é que, aqui analisando friamente, o arco de Taash é o mais desinteressante de todos. Em trama, em motivação, em construção. A jornada da personagem se descobrindo simplesmente é caricata. Não funciona. E se não bastasse, como todo o personagem não-binário incluso no jogo. E olha que sempre me divirto nas interações do personagem com Emmerich e sua fobia da necromancia e Davrin sobre os cuidados com Assan. Comparando com a premissa do jogo anterior, os personagens eram tão interessantes que o debate sobre sexualidade, gênero ou motivação eram simbolicamente deixados de lado, mas não num sentido ruim, de supressão, mas pela força da natureza que eles eram. Mas você me pergunta: o que Sera, Pavus, Krem e tantos outros personagens tinham em comum com essa conversa? Eram personagens palpáveis. VÍVIDOS. Sera deixava claro que se interessava apenas por mulheres e que poderia tirar seu cavalinho da chuva caso seu personagem fosse homem. Não só isso, não tinham medo de ficar incomodada quando você falava e decidia a favor de qualquer império opressor, além de falar muito pelos cotovelos. Uma figura, sempre me rendendo boas risadas nas interações na minha equipe. Pavus, um mago que tinha um coração bom em um reino marcado pela maldade, escravidão e magias proibidas, se tornaria um dos personagens homossexuais mais fodas que já vi em qualquer jogo de videogame. Eu fiquei sinceramente tocado pela amizade dele com meu personagem, a ponto de me sensibilizar com um vínculo tão bonito e honesto que, nas cenas pós-créditos, agora magistrado e cheio de responsabilidades na corte de Minrathous, descobri que ele utilizaria um cristal mágico para falar comigo, mesmo anos depois da nossa jornada pessoal na Inquisição. Krem, de uma simplicidade incrível, disse que seus amigos mercenários sempre o aceitaram como ele queria ser chamado, não importando o fato dele ser confundido com "mulher" e que quem o visse assim logo entenderia, numa briga direta, que isso não era impedimento. Entenderam como se fazem personagens fortes? O debate sobre sexualidade, perguntas e representatividade era feito de maneira bonita, bela e sem margem para qualquer gracinha vinda de fora?
Taash tem seus momentos bacanas: A maneira como cuida e se importa com animais e a natureza, o medo bobo da necromancia de Emmerich ou como ela de fato se importa e cuida da Harding, se elas estiverem num relacionamento, ou até mesmo o cuidado com os membros da equipe quando, nas possibilidades do jogo, você consegue melhorar seu vínculo com ela. Porém, toda a premissa com a mãe e as culturas complexas dos Qunari (que tem até um termo para pessoas transsexuais em seu vocabulário) são jogadas fora em representações extremamente caricatas. Sem falar no mal humor e no ataque à aparência de Neve como mulher, a ponto de presenciarmos perguntas evasivas e idiotas, como se a roupa que ela usa foi escolhida pela mãe ou para agradar alguém, relativizando e menosprezando o fato dela ser quem ela quer ser, ou seja, uma mulher por livre e espontânea vontade. A frase que ela diz para o personagem, "Ninguém gosta de ser mulher" por estar dando um chilique, é risível e surpreende mais ainda, vindo de alguém que "prefere se relacionar com mulheres". Ridículo como a personagem que mais quer ser reconhecida e respeitada é a que mais consegue ser intolerante com a equipe, às vezes até menosprezando seus semelhantes. Soa arrogante e prepotente. Sem falar na maneira mal educada com que trata Emmerich no começo. Necromante, o educado doutor não sabia que ela o achava mórbido por tratar das artes secretas do pós-vida e, com isso, teve que sofrer com apelidos extremamente insensíveis a ele, como "Mago da Morte" ou "Cara dos Defuntos", sem entender porque daquela hostilidade. Meu personagem interveio e, finalmente, depois de muito diálogo, ela parou de ser indelicada com ele.
E aqui temos a sexualidade freestyle. Todo mundo é bi. Exceto a Taash, que é não-binária, mas pode se relacionar com o Rook, trans, não-binário, mulher e homem. NÃO, MAS PERAÍ, todo mundo pode namorar todo mundo mesmo. Isso pode ser visto como inclusivo, mas entenderam porque usei a representação dos personagens dos últimos jogos? É um jogo, eu sei, mas ele tem tantas coisas a serem debatidas. Raças de elfo, anões e humanos são só a ponta do iceberg aqui. Uma boa história tem personagens reais, palpáveis, e quando algo tão íntimo e pessoal se torna generalizado, o debate perde a força e, consequentemente, os romances do jogo são esquecíveis. Sério, completo downgrade se comparado a outros jogos da BioWare.
Outra coisa: Tudo bem você ter um personagem não-binário, gay, hétero ou transsexual. Sério, não ligo. Todos devemos ser felizes à nossa maneira. O problema é que o jogo realmente quer fazer disso um plus, como se você fosse um cliente VIP caso opte por isso. Eu optei por fazer um personagem hétero, certo? Certo. Na minha primeira interação na sala inicial, dentre as opções de diálogo reflexivas, eu descubro que era zoeira, que eu posso ser trans ou não-binário de novo. Era tudo brincadeira, pessoal. Imaginem se você coloca que sua sexualidade é não-binária e, do nada, o jogo diz: "Mas aí, meu mano, se vai ter mais opções se for hétero". E que se eu fizesse isso, eu teria mais... diálogos e interações? Vou deixar essa com vocês para reflexão.
NADA disso me impediu de me divertir e jogar o jogo por 80 longas horas. Fiz todos os arcos possíveis, todos os meus companheiros viraram lendas, cacei tudo que se movia e fiz 100% do mapa. O arco final, se me permitem, é belíssimo e o final, caso você consiga um certo item, é maravilhoso. A amizade que fiz com essas pessoas e ver todas as facções unidas por um objetivo em comum foi lindo de se ver também. Me fez grudar na tela da TV e só parei às 5 da manhã, como um muleque de 13 anos.
Se eu recomendo Veilguard? Depende. Ama a franquia Dragon Age em seu formato antigo? Deixe pra lá ou espere uma promoção e vá com a mente aberta. É fã de hack'n slash e gostaria de começar a jogar algo da franquia ou simplesmente um jogo que traz uma roupagem atual usando mecânicas de outrora? Vai fundo. Ao menos você terá uma jornada divertida no mundo do jogo, enquanto caça dragões e salva o mundo das divindades.
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Bruno Castelar
PSN: Sr-SuaMae
Fã de videogames. Joga no Playstation mas cresceu jogando em todas as plataformas possíveis. Indies são tão bons quanto AAA, Resident Evil 4 Remake é meu GOTY pessoal de 2023. Jogo de tudo um pouco a exceção RPG's de turno.