Assassin's Creed Shadows patina com bugs, mas entrega um ótimo jogo

Assassin's Creed Shadows patina com bugs, mas entrega um ótimo jogo

Novo jogo da franquia Assassin's Creed ambientado no Japão Feudal entrega uma aventura sólida e divertida mesmo com bugs. Teimosia da Ubisoft em emplacar troféus online para um jogo singleplayer e um hub pavoroso, não intuitivo e genérico mostram que nem mesmo o sucesso de sua maior franquia vai salvar a empresa do mal gerenciamento e idéias ruins.

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Assassin's Creed se sobressai em sua qualidade gráfica. Foto tirada por mim, em um Playstation 5 base.

Depois de dois adiamentos, polêmicas envolvendo templos sagrados destruídos por jogadores desrespeitosos e discussões acaloradas sobre Yasuke ser ou não um samurai (um samurai negro incomoda muita gente), Assassin’s Creed Shadows foi finalmente lançado em 20 de março de 2025.

Um dos jogos mais esperados por este crítico — fã de longa data da franquia e admirador da premissa mais focada no estilo RPG de ação — o título não decepcionou e entregou uma aventura muito divertida no Japão feudal.

Contudo, a parte técnica ainda apresenta problemas recorrentes, como bugs e a já conhecida inconsistência na entrega dos jogos da Ubisoft, o que continua fazendo os jogadores arrancarem os cabelos. Além disso, os troféus e conquistas estão conectados aos servidores da Ubisoft, mesmo sendo um jogo singleplayer, o que frustra muitos jogadores.

Outro ponto criticado é o Animus, que agora funciona como um hub principal, servindo tanto como menu inicial quanto como marketing para jogos anteriores. A ideia de acessar esses jogos por esse hub compartilhado é completamente sem sentido, considerando que todas as outras entradas da franquia possuem menus próprios e independentes.

Confuso, feio e extremamente desnecessário, é difícil descrever o quão terrível é o gerenciamento interno da Ubisoft por permitir que algo assim escape pelo controle de qualidade.

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Vocês vão passar muito tempo no modo foto. Foto tirada por mim, Playstation 5 base.

História e Roteiro

Passada essa impressão inicial, comecei o prólogo e fui fisgado já nos primeiros 30 minutos. Yasuke e Naoe são fantásticos, muito bem apresentados. Não direi como, quero que você jogue e descubra por si só.

Naoe, a shinobi, representa a parte focada no combate stealth. Um ataque inescrupuloso à sua vila, promovido por um grande Daimiô, é o ponto de partida para toda a trama. Nas sombras, uma ordem chamada "Shinbakufu" trama roubar um artefato escondido, aproveitando o caos da guerra na região de Iga.

O pretexto é simples e diretosem grandes reviravoltas ou teias complexas se desenrolando. Trata-se de vingança para Naoe e propósito para Yasuke. O que realmente prende o jogador à história, sem ironia, é o carisma de ambos os protagonistas e do elenco que compõe a Kakushiba Ikki.

Confesso que me vi muito mais interessado nas motivações, dramas e personalidades distintas desse grupo do que propriamente em caçar o grupo nefasto de antagonistas. Não me entenda mal — isso continua divertido como sempre foi, mas Assassin’s Creed Shadows funcionará melhor para o jogador que não se importa com o contexto atual da narrativa e simplesmente prefere se divertir com as aventuras no Japão feudal.

Explico: Layla e todo o arco dos tempos atuais, iniciado em Origins (2017), foi deixado completamente de lado. Isso mesmo — uma decisão arriscada, que para mim não interfere em nada, mas que certamente incomodará os fãs desse segmento da franquia. Em Valhalla (2020), havia uma clara deixa para a sequência da história da personagem, que não acontece aqui.

A decisão da Ubisoft foi usar esse gancho para forçar o jogador a cumprir eventos de combate genéricos, onde você simplesmente elimina inimigos. A partir dessas missões banais, o jogo tenta contextualizar o surgimento da ordem no Japão e seu papel nos tempos atuais.

Em troca, ao completá-las, você recebe “chaves” do Animus, que podem ser usadas para comprar itens cosméticos por meio de uma aba específica no menu. Toda a premissa bem construída dos tempos atuais foi sacrificada para dar lugar a um sistema que visa, claramente, incentivar o investimento em cosméticos pagos.

Efeitos Sonoros / Música / Dublagem

A Ubisoft fez o dever de casa nesse aspecto: tudo aqui funciona muito bem. Os gritos dos inimigos, os efeitos sonoros de armaduras se partindo, lâminas se tocando... tudo é extremamente imersivo.

Nos ambientes internos, o som dos passos é muito bem representado, ajudando o jogador a se localizar de forma prática e realista. Gosto especialmente dos momentos em que é necessário andar devagar, pois o chão faz muito barulho, exigindo mais atenção e estratégia.

Na natureza, o cuidado continua: árvores balançam com a ventania, há um riacho ao fundo de uma vila, o trote do cavalo soa natural... Enfim, Assassin’s Creed Shadows se baseia em tudo que deu certo na franquia e mantém o belíssimo trabalho em imersão sonora.

A dublagem brasileira adiciona acessibilidade e conta com um elenco muito convincente, mas é importante destacar a atuação de Tongayi Chirisa, que interpreta Yasuke (atualmente também na série Bruxas de Mayfair, da Prime Video) e de MASUMI, como Naoe — ambos merecem sua total atenção.

Outro destaque vai para o elenco de suporte, especialmente Hiro Kanagawa, que interpreta Oda Nobunaga. Esse é seu primeiro trabalho em videogames, e ele entrega uma performance de alto nível. Kanagawa já participou de séries como iZombie (em alguns episódios) e também fez pontas em Supernatural.

Se puder, jogue com a dublagem em inglês — a qualidade das atuações realmente faz a diferença na experiência.

Yasuke

Os dois vivem com dor na coluna por carregar o jogo nas costas


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Gráficos / Direção de Arte

De longe, esse é o aspecto mais forte do jogo, ao lado da jogabilidade. Assassin’s Creed Shadows traz uma novidade marcante na franquia: as estações do ano. De invernos rigorosos a uma primavera repleta de sakuras belíssimas, o jogo impressiona. Visualmente, ver essa transformação é de encher os olhos.

Na prática, a inovação fica mais no campo visual e em pequenos detalhes: campos são semeados, há o crescimento dos grãos e a colheita pode ser observada em tempo real. Acho incrível quando os desenvolvedores se dedicam a esse nível de imersão.

Contudo, com exceção de algumas missões, o impacto das estações é mínimo. No inverno, por exemplo, a neve dificulta a subida em morros, e há mudanças nos recursos, facções e até nos aliados, que retornam à base com todo o saque coletado para o esconderijo. Apesar disso, tudo isso representa pouco diante do impacto que o jogo havia prometido.

Sem a opção de mudar, estagnar ou acelerar o processo das estações, as poucas missões que dependem delas acabam se tornando momentos de espera. Ainda assim, o saldo geral é positivo.

Os detalhes nas armaduras, os tecidos de seda, as armas e os personagens são riquíssimos. As feições estão excelentes, evidenciando uma clara evolução em relação aos últimos jogos, e detalhes como cabelos ao vento e efeitos de umidade são de encher os olhos.

Destaque especial para as nevascas e tempestades repletas de trovões, que adicionam um tom épico quando acontecem.

Jogabilidade

Outro ponto fortíssimo do jogo. A peteca não caiu, e eu preciso dizer o quão engajante e divertido o combate é.

Naoe finalmente nos entrega uma assassina de verdade, com foco em dano por penalidades, além de muita destreza e leveza na exploração. A kusarigama é insana, e as possibilidades de assassinato com tantô e katana são muito boas.

Momentos épicos também te aguardam com Yasuke. Seja com uma katana longa, uma naginata ou um kanabô, o HOMEM É UMA LENDA. Yasuke é um tanque, e, por mais que divida opiniões, foi uma decisão acertadíssima da Ubisoft finalmente diferenciar os personagens.

Aya e Bayek? Idênticos no gameplay.
Evie Frye e Jacob Frye? Mesma coisa.
Aqui, realmente sentimos como os dois protagonistas são diferentes.

Naoe é para exploração, para jogar com cautela, planejando cada passo.
Yasuke é o oposto: é para sair quebrando tudo e todos, sem medo das consequências. E essa dualidade foi transmitida de forma viciante e competente.

O sistema de equipamentos mantém os níveis de raridade clássicos:

  • Transparente (comum)

  • Verde (raro)

  • Roxo (muito raro)

  • Dourado (lendário)

O nível de raridade determina efeitos adicionais, como dano de arma e penalidades (veneno, sangramento e desorientação), que variam de arma para arma.

Exemplo prático:
Uma armadura comum de samurai ou shinobi não pode receber upgrades de entalhe e não possui efeitos extras.
Já as armaduras lendárias podem conter até dois efeitos de entalhe raros e são encontradas em baús espalhados por castelos e pelo mundo aberto.

Outro item interessante é o penduricalho, que concede ajustes adicionais na build escolhida pelo jogador, com mais efeitos bônus.

E um destaque muito bem-vindo: o Transmog.
Você tem liberdade total para modificar a aparência de qualquer equipamento ou armadura, desde o início do jogo.
Gostou da roupa inicial de shinobi? Use o visual dela na sua melhor armadura, sem perder desempenho. Simplesmente incrível.

À medida que você avança, vai se familiarizando com todos esses sistemas, e isso impacta muito positivamente a jogabilidade.
A liberdade de combinações é vasta e divertida o suficiente para manter você motivado a eliminar tudo que se move no mundo hostil de Assassin’s Creed Shadows.

Encontrar sets de equipamentos e combinações diversas que se adaptam ao seu estilo é sempre muito divertido. Perdi horas nesse menu fazendo isso e a experiência valeu a pena demais.

Uma coisa que pode prejudicar a experiência no campo de evolução é a janela de habilidades e a maneira como essa construção é feita — caso você não preste atenção.
Explico:

Assassin’s Creed Shadows se afasta da fórmula tradicional de RPG direto e aposta em um sistema baseado em PONTOS DE MAESTRIA, separados por menus de habilidades, de acordo com os segmentos que você deseja evoluir.

Quer priorizar as habilidades de katana da Naoe?
Vai fundo.
Prefere focar totalmente em assassinato silencioso com o tantô?
O jogo te dá liberdade.

E sim, fique tranquilo: os pontos de maestria são compartilhados entre Naoe e Yasuke.
Ou seja, independente de quem estiver jogando, ambos ganham e podem utilizar esses pontos.

Mas para desbloquear novos níveis de habilidades, você precisará também dos chamados PONTOS DE CONHECIMENTO. Eles funcionam como uma espécie de pedágio para aumentar o nível de maestria.
Esses pontos são obtidos explorando o mundo:

  • Tumbas,

  • Templos com páginas escondidas,

  • Katás,

  • E outras atividades paralelas.

Além disso, há um menu bastante escondido no ícone de Conhecimento, onde é possível melhorar elementos como:

  • Vida,

  • Dano à armadura,

  • Dano físico,

  • Entre outros.
    Fiquem atentos a isso!

O grande problema é que os menus do jogo são uma bagunça, principalmente para quem está começando.
informações demais sendo entregues de forma desorganizada, e ao mesmo tempo, dados extremamente relevantes são mal sinalizados.

Um exemplo: para aumentar a porcentagem de vida consumindo alimentos, você precisa usar recursos para melhorar seu esconderijo e construir uma casa voltada para esse fim.
Todas as construções que você realiza no esconderijo afetam diretamente sua campanha, mas isso só é mostrado de forma bem velada no menu.

E já que tocamos nesse ponto...
Vamos falar agora sobre o Esconderijo, outra grande novidade do jogo!

Perder um tempo considerável posicionamento árvores, cosméticos e prédios é extremamente relaxante e divertido. Fonte da imagem: https://www.gamepressure.com/assassins-creed-shadows/hideout/z311845

O Esconderijo é seu hub central, o lugar onde seus aliados permanecem durante suas aventuras. É aqui que você vai:

  • Melhorar armas,

  • Aprimorar aliados,

  • E gerenciar seus olheiros espalhados pelo mundo.

Além disso, é também um espaço altamente personalizável: você pode modificar árvores, decorações, estruturas completas...
É tudo muito divertido de aprender, e sinceramente? Altamente viciante. Me peguei diversas vezes ajustando layouts, testando decorações e experimentando combinações, enquanto aprendia o impacto de cada construção no meu jogo — e não me arrependi nem um pouco.

Porém, fica um alerta:
No começo, nada disso é tão intuitivo quanto deveria ser, a menos que você pare para LER cuidadosamente as descrições de cada upgrade.
É um sistema direto, mas exige atenção.

Você vai precisar juntar:

  • Mon (dinheiro do jogo)

  • Recursos como minérios, madeira, palha e tecidos.

Esses recursos são usados para expandir e melhorar as construções do seu esconderijo — e sim, essas melhorias têm impacto direto na sua campanha.

Construiu um Dojô?
Perfeito — seus aliados se tornarão mais fortes em combate.
Mas para alcançar todos os níveis de melhoria, você vai precisar saquear muitos recursos no Japão Feudal e elevar os prédios até o nível máximo (3).

Dica pessoal: comece pela Casa de Alimentação.
Ela aumenta a recuperação de vida ao consumir alimentos.
E a Forja totalmente aprimorada também é uma prioridade que vale muito a pena antes de expandir demais outras áreas.

Outro ponto que me manteve completamente engajado foram os colecionáveis visuais.
vendedores espalhados por todo o Japão, e personalizar seu esconderijo com os itens que você encontra por aí é sempre muito, MUITO divertido.

E tem mais:
Você pode adicionar gatos, cachorros, bodes, fazer um jardim com cercas de bambu, ou montar um espaço dedicado à recarga do seu Teppo (o mosquete japonês).
É uma adição muito bem-vinda, que torna o esconderijo seu verdadeiro lar dentro do jogo.

Espero de verdade que esse sistema evolua ainda mais e permaneça nos próximos títulos da franquia.

Ponto para a UBISOFT.

Parte Técnica

Assassin’s Creed Shadows passou por dois adiamentos, com a justificativa de que o tempo extra seria usado para refinar e polir a experiência final.
Joguei o título desde o dia 20 de março no PS5 base, e ainda que o desempenho geral tenha sido muito bom, especialmente considerando o tamanho e ambição do projeto, alguns problemas surgiram ao longo das minhas 147 horas de jogo:

  • Bug do assassinato: Naoe matava o inimigo e ele simplesmente… voltava à vida. Esse foi corrigido no patch 1.03.

  • Queda no mundo (buraco infinito): meu personagem despencava do mapa sem parar.

  • Inimigos travados: alguns adversários simplesmente não reagiam aos ataques, apenas me observavam.

  • Missões principais com bugs: apesar de eu não ter enfrentado travamentos nelas, houve relatos de jogadores impossibilitados de progredir devido a falhas.

  • Troféus/conquistas online: essa foi uma decisão infeliz da Ubisoft. Se você completou os requisitos na primeira semana, muitos troféus simplesmente não foram liberados. E pior: se estiver jogando offline, os troféus só aparecem quando você se conecta ao servidor da Ubisoft.

Como fã da franquia desde o primeiro Assassin’s Creed, me sinto na obrigação de ser transparente.
Esses problemas podem não acontecer com você, mas fazem parte da minha experiência, e também da de amigos próximos que jogaram na mesma época.

Aliás, se você tiver algum bug ou falha, recomendo fortemente o uso do canal oficial de reportes da Ubisoft:

👉 https://www.ubisoft.com/en-us/game/assassins-creed/shadows/bug-reporter

Todos os problemas que citei já estão listados por lá, e vale muito a pena contribuir com feedback para que o jogo continue melhorando.

Conclusão / Nota Final

Assassin's Creed Shadows é, sem dúvidas, um bom jogo.

Fãs da franquia vão se deliciar explorando o Japão Feudal, vivenciando a jornada de Naoe e Yasuke, e mergulhando em uma ambientação caprichada que faz jus à proposta.

Mas sejamos justos: a tão prometida inovação fica mesmo concentrada nas mecânicas de combate e no sistema de esconderijo. A fórmula central ainda é a mesma — a estrutura de mundo aberto, a forma de explorar, a essência “Assassin’s Creed” continua ali, firme e forte.

Isso é bom ou ruim? Depende do jogador.
Se você procura uma revolução na franquia, talvez se frustre.
Agora, se você gosta do estilo consagrado da série, com boas adições, é um prato cheio e saboroso.

No Xbox e PC, o game está disponível no UBI+, o que torna o acesso ainda mais vantajoso para quem quer experimentar sem compromisso direto com a compra.

Com os patches que já foram lançados e os conteúdos adicionais prometidos pela Ubisoft, posso dizer com tranquilidade: Vale a pena embarcar nessa jornada.

Nota
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Bruno Castelar
PSN: Sr-SuaMae

Fã de videogames. Joga no Playstation mas cresceu jogando em todas as plataformas possíveis. Indies são tão bons quanto AAA, Resident Evil 4 Remake é meu GOTY pessoal de 2023. Jogo de tudo um pouco a exceção RPG's de turno.