Clair Obscur: Expedition 33 me fez redescobrir o encanto dos RPGs

Uma jornada emocional e gratificante do início ao fim que desafia expectativas e prova que grandes histórias podem surgir dos menores estúdios.
"Uma vez por ano, a Artífice desperta e pinta no monólito dela. Pinta o número amaldiçoado. E todos com essa idade viram fumaça e desaparecem. Ano após ano, um número menor é pintado e mais de nós somos apagados. Amanhã, ela despertará e pintará "33". E amanhã, partiremos em nossa missão final: destruir a Artífice, para que ela nunca mais possa pintar a morte."
Essa é a descrição do material de divulgação do jogo nas lojas digitais. Normalmente o marketing exagera demais, o que não é o caso aqui. Tanto que saí da minha zona de conforto para escrever uma análise desse jogo que sinceramente, entra para a seleta galeria de experiências memoráveis, sendo uma dos melhores que tive o prazer de jogar.
Clair Obscur: Expedition 33 é um RPG em turnos com uma abordagem criativa que combina mecânicas em tempo real, resultando em combates intensos e dinâmicos. Ambientado em um mundo que evoca a Belle Époque da França, o jogo apresenta uma mistura única de fantasia sombria e estilo artístico impressionante, com uma narrativa que me cativou desde o primeiro momento.
A premissa de Expedition 33 se destaca por sua profundidade filosófica. Em um mundo onde todos têm tempo limitado, cada decisão parece mais significativa. Essa abordagem me fez refletir sobre a mortalidade e o valor do tempo de uma forma que poucos jogos conseguem. Fiquei particularmente impressionado com o prólogo, que não só introduz o universo do jogo, mas também estabelece o tom para a narrativa de maneira poderosa. É uma das aberturas mais marcantes que já vi em qualquer mídia, conseguindo transmitir muito contexto em pouco tempo.
O enredo do jogo vai muito além do que eu esperava. Ele aborda temas profundos e significativos, sem medo de explorar as nuances de seus personagens e suas motivações. Não quero entrar em detalhes para evitar spoilers, mas posso dizer que a trama me surpreendeu mais de uma vez. Ao contrário de muitos RPGs que se perdem em histórias secundárias, Expedition 33 consegue manter o foco sem sacrificar a profundidade.
O sistema de combate é uma das grandes inovações do jogo. Em vez do tradicional estilo de espera para atacar, você precisará esquivar, bloquear e contra-atacar em tempo real, aprendendo os ritmos dos inimigos para executar combos precisos. O uso da mira livre para explorar os pontos fracos dos adversários adiciona uma camada estratégica rara em RPGs desse estilo. Além disso, você pode criar equipamentos exclusivos que se ajustam ao seu estilo de jogo, maximizando sinergias entre os membros da sua equipe e aprimorando seus atributos e habilidades.
Com uma campanha principal que dura entre 40 e 50 horas, o jogo é mais curto que os épicos tradicionais de 100 horas ou mais. No entanto, essa escolha funciona a seu favor. Cada interação parece deliberada, sem desperdício de tempo ou cenas desnecessárias. O jogo se move de evento em evento com uma fluidez rara, mantendo o ritmo sem se alongar além do necessário. Prefiro isso a narrativas que se arrastam e acabam perdendo seu impacto.
O conteúdo paralelo também é um destaque. Ao explorar o mundo do jogo, você pode encontrar diários de expedição que revelam o destino de expedições passadas, adicionando camadas à narrativa e incentivando a exploração. Esse tipo de detalhe me cativou, me levando a continuar jogando mesmo após os créditos finais, na esperança de descobrir cada segredo que os desenvolvedores esconderam.
Perto do final, o jogo apresenta chefes extraordinariamente desafiadores. Mesmo sendo opcionais, esses encontros são uma verdadeira prova de habilidade, exigindo que você compreenda profundamente as mecânicas de combate. Esses desafios me fizeram repensar minha abordagem várias vezes, provando que o jogo sabe recompensar aqueles que se dedicam a dominar suas regras.
Visualmente, Expedition 33 é um espetáculo. A direção de arte é inspirada na opulência da Belle Époque, com cenários que parecem saídos de uma pintura surrealista. Mesmo jogando no Xbox Series S, fiquei impressionado com a otimização e o nível de detalhe, que fazem cada cena parecer viva. O uso de luz e sombra, combinados com efeitos atmosféricos, cria um mundo que parece genuinamente antigo e mágico.
Claro, em uma questão de gosto particular, preferi desligar a aberração cromática e vinheta, o que notoriamente deixou o jogo mais bonito.
As cenas in game são primorosas, mostrando o belíssimo trabalho feito pela Sandfall Interactive que, mesmo para uma equipe pequena e poucos recursos, conseguiu transmitir uma grandiosidade em cada ângulo de câmera, em cada expressão facial, em cada efeito. A fotografia é simplesmente fenomenal!
A trilha sonora de Lorien Testard é outro ponto alto. Ela mistura melancolia e grandiosidade, usando cordas para transmitir a sensação de um mundo à beira do colapso. Em alguns momentos, os violinos parecem ecoar memórias perdidas, enquanto os violoncelos carregam o peso de um mundo que luta para não desaparecer. É, sem dúvida, uma das melhores trilhas que já ouvi em um jogo.
As atuações de voz são igualmente impressionantes. Charlie Cox (Gustave), Ben Starr (Verso) e Andy Serkis (Renoir) entregam performances que dão vida aos personagens. No entanto, foi Jennifer English, como Maelle, que mais me impressionou, trazendo uma profundidade emocional que faz jus ao tom sombrio do jogo, transmitindo dor, angústia e tantas outras emoções misturadas entre si.
Em um aspecto amplo, Expedition 33 é um jogo que possui poucos problemas. Encontrei alguns relacionados a colisão dos personagens durante a caminhada livre pelos mapas, mas nada que me fizesse torcer o nariz ou dizer que isso compromete a jogabilidade. Aliás, a jogabilidade em si é simples, efetiva e cumpre exatamente seu papel. Desde circular pelos cenários como nas batalhas, ela funciona como deve funcionar. Sem surpresas, entrega o fino da experiência.
No final, Clair Obscur: Expedition 33 é um daqueles jogos que me lembram por que me apaixonei por videogames em primeiro lugar. Ele prova que não é preciso um orçamento milionário ou uma equipe enorme para criar algo verdadeiramente memorável. Mesmo com recursos limitados, a Sandfall Interactive conseguiu entregar uma experiência que é ao mesmo tempo emocionante, reflexiva e tecnicamente impressionante.
Nos últimos anos, joguei muitos jogos que me cativaram, que me emocionaram e que estão no meu coração. Mas Expedition 33 foi o único que me fez criar coragem em escrever uma análise, talvez não porque eu tenha gostado demais do jogo, mas porque ele realmente merece ser conhecido por todos que amam histórias, amam personagens, amam se emocionar e amam jogar videogame.
Essa é a essência bela e pura que precisa ser resgatada. Simples assim!


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Marcos Paulo I. Oliveira
MPIlhaOliveira
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